quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Rio eu te amo: entre o marketing e o artístico




"Rio eu te amo" é a mais nova estreia que fala sobre o Rio de Janeiro. Ele é o terceiro filme da trilogia Cities of Love (Cidades do Amor), que já retratou Nova Iorque e Paris. Apesar das críticas negativas que recebeu, se fosse para colocar na balança, vejo ele mais como positivo do que negativo. Vamos aos porquês. 

É claro que o filme tem um viés comercial mais do que óbvio. É um marketing descarado e exagerado do Rio de Janeiro, com panoramas longas e constantes e as belezas naturais mostradas numa frequência obscena. Os principais cartões-postais da cidade aparecem como cenários para as histórias: Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Theatro Municipal, Praia de Copacabana, São Conrado, Vidigal.

Porém, não é por isso que algumas intenções deixam de ser mais do que boas. São sinceramente geniais. Por exemplo, o curta dirigido pelo australiano Stephan Elliot (diretor de Priscila, a rainha do deserto), onde Marcelo Cerrado interpreta um voluntário do conhecido Festival Internacional de Cinema do Rio. Cerrado vai buscar um ator mal-humorado interpretado pelo ator australiano Ryan Kwanten (?). Bem, além do final inusitado que eu não comentarei aqui, tem uma cena fantástica onde a dupla escala (!!) o Pão de Açúcar sem equipamentos e ao chegar no topo dá de cara com uma cantora toda vestida de Branco cantando 'Eu preciso dizer que te amo'. A cantora em questão é Bebel Gilberto, filha de João Gilberto, que canta o clássico de Cazuza. 

Enquanto muita gente achou a participação constrangedora, confesso que dei várias risadas no cinema quando vi aquele curtinha sem graça se transformando numa coisa muito louca onde uma mulher vestida de branco e imitando um anjo começa a cantar Cazuza enquanto os dois caras chegam exaustos no topo do Pão de Açúcar. Fico constrangida mesmo é pela incapacidade das pessoas de entender o bom humor de Elliot e achar que ele foi cafona. Cafona também é vida. Pastiche também pode ser crítico e é uma estética intencional que dá cero. 

Outro curta que me fez sorrir foi o intitulado Copacabana, dirigido por Fernando Meirelles (Cidade de Deus e 360). Retratando numa luz ousada (estourada, linda) e num ângulo incrível o calçadão de Copa, ele sincroniza os passos dos pedestres com sons, músicas e barulhos. O simpático ator francês Vincent Cassel interpreta um artista de rua que faz esculturas na areia e reconhece, pelo som, uma bela mulher. O que me impressionou mesmo foi a direção de fotografia, o lúdico do filme, o experimental dentro da sequência de historinhas que tecem a linha narrativa do longa. 

Por último destaco o criativo "Vidigal". Neste curta, dirigido pelo coreano Im Sang-Soo um vampiro sobe o morro e se sacia numa zona de prostituição. A história não seria tão engaçada se não fosse a atuação de Tonico Pereira. O ator sênior interpreta o mordomo-vampiro meio robótico, que agrada pela comicidade. 

Fernanda Montenegro fica subutilizada no papel de Dona Fulana, no curta de Andrucha Waddington (Casa de Areia, Eu tu eles) que, apesar do nome, é brasileiro. Ela é uma mendiga sem graça e a questão dos moradores de rua não é tratada com a devida importância, beleza, sinceridade ou o mínimo de criatividade. Rodrigo Santoro também faz um bailarino que não convence muito num curta muito entediante do Carlos Saldanha, onde a apresentação acontece atrás de um pano, só com as silhuetas dos bailarinos. Que obviamente serve para disfarçar que não é Santoro dançando. Não sei, achei estranho. Era pra usar só o nome dele? Por que não valorizar um bailarino da Companhia do Theatro Municial? Wagner Moura, então? Faz umas críticas aleatórias enquanto fala com o Cristo voando dentro de um parapente. Só. Os atores mais famosos não se destacaram. Possivelmente foram chamados para alavancar o filme e tal e tal. 

Realmente, o filme faz parte de uma tendência em vender as cidades como mercadorias para o turista internacional, mas é impossível negar que a reunião de expoentes do cinema resultou em algo que tem seu charme.  

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