sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Na quebrada (e no cinema)






O filme Na Quebrada, dirigido por Fernando Grostein Júnior, conta a história de três jovens de Nova Brasilândia, uma favela de São Paulo, que acabam conhecendo o cinema por conta do trabalho de uma Ong, o Instituto Criar.As histórias e o filme em si não fogem muito do que vem sido mostrado em filmes de favela, quase um novo gênero.  Na verdade o filme veio para a comemoração de dez anos da Ong, sendo assim, cumpriu bem seu objetivo. Vamos a história e aos pontos fortes. 

O filme segue a trajetória dos quatro adolescentes: Júnior (Jean Luis Amorin), Joana (Daiana Andrade), Zeca (Felipe Simas, que segundo minha amiga faz Malhação, mas só fez eu recordar o Kayky Brito)  e Gerson (Jorge Dias, filho do Mano Brown). Júnior é o personagem engraçado e atrapalhado, que vive levando choques e quebrando as coisas (me lembrou eu mesma). Parece caricato, mas os depoimentos reais no final do filme mostram que essas pessoas existem mais na realidade do que na ficção. Joana é uma menina que esta grávida e tem pais cegos, vivendo o drama do seu irmão também estar ficando. Zeca tem que lidar com os pais no mínimo chatos porque quer se tornar um cineasta. Gerson tem a história mais complicada, com uma mãe solteira e o pai no presídio. A mãe leva drogas para o pai, até que ele morre e Gerson precisa entrar no mundo do crime para pagar dívidas. 

Zeca, por sinal, tem sua história baseada na trajetória do co-diretor do Filme, Paulo Eduardo, que foi marcado pela violência quando leva um tiro na adolescência. Ele se entusiasma com o cinema e cria uma sala dentro da comunidade, o Cine Rincão. Tudo isso está no filme. O Cine Rincão foi tema de um curta metragem que chegou ao Festival de Veneza, também dirigido por Grostein Júnior. Ele fez parte de um projeto da revista italiana Colors, que buscava curtas de pessoas que tinham sido baleadas em zonas de conflito pelo mundo. Entre 15 mil inscritos em todo o mundo, Cine Rincão ficou entre os 10 finalistas exibidos no Festival de Veneza de 2012. Ah, dado interessante: O Cine Rincão, o curta, tem a trilha sonora de Caetano Veloso e também de Lucas Lima (da Família Lima, sabe? Que casou com a Sandy. Do Sandy e Júnior, lembra?). Lima também participou da trilha sonora do Na Quebrada. 




O que todos eles tem em comum é que moram em Brasilândia e acabam num curso de Cinema, do Instituto Criar. Até aí um filme é, vai, nota C. Porém, o que chamou a minha atenção foi a ÓTIMA atuação daqueles que fazem papel de presos no filme, especialmente o pai de Gerson, interpretado por Anderson Lima. A situação foi explicada no final, quando é mostrado que os presos que participaram do filme são presos ou ex-presos reais. Eles são parte de um grupo de teatro Do Lado de Cá, que realiza atividades artísticas dentro da Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, SP. Isso é simplesmente genial. Incluir os presidiários num grupo desses já seria interessante o suficiente, mas contar com a ajuda deles num filme como esse é ainda mais importante, tanto para sua valorização como para reintegração. 

O filme é dirigido por Fernando Grostein Andrade que já fez trabalhos muito bons. Ele dirigiu Quebrando o Tabu (se você ainda não viu esse filme, para tudo e vai aqui, ó.), que fala sobre a política de combate às drogas no Brasil e em vários países do mundo. Ele também é diretor de Coração Vagabundo, que tenho certeza que é muito bom, mesmo não tendo visto, haha. O documentário sobre o Caetano Veloso (vou dar um S2 aqui) está no topo da minha lista para coisas urgentes a serem assistidas. Ele traz o cotidiano da turnê do disco A Foreign Sound, o único disco de Veloso gravado em inglês. 

O engraçado é que Fernando Grostein Andrade, filho de Mário Andrade, é meio-irmão de Luciano Huck, fundador da Ong. O histericamente engraçado, para mim, é que Luciano Huck apoiou com afinco a candidatura de Aécio Neves na corrida presidencial deste lindo ano de 2014. Justamente Aécio, que é a favor da redução da maioridade penal, o que levaria mais crianças e adolescentes das periferias para o sistema prisional tão bem retratado no filme: violento, superlotado, que dá poucas chances de recuperação. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Rio eu te amo: entre o marketing e o artístico




"Rio eu te amo" é a mais nova estreia que fala sobre o Rio de Janeiro. Ele é o terceiro filme da trilogia Cities of Love (Cidades do Amor), que já retratou Nova Iorque e Paris. Apesar das críticas negativas que recebeu, se fosse para colocar na balança, vejo ele mais como positivo do que negativo. Vamos aos porquês. 

É claro que o filme tem um viés comercial mais do que óbvio. É um marketing descarado e exagerado do Rio de Janeiro, com panoramas longas e constantes e as belezas naturais mostradas numa frequência obscena. Os principais cartões-postais da cidade aparecem como cenários para as histórias: Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Theatro Municipal, Praia de Copacabana, São Conrado, Vidigal.

Porém, não é por isso que algumas intenções deixam de ser mais do que boas. São sinceramente geniais. Por exemplo, o curta dirigido pelo australiano Stephan Elliot (diretor de Priscila, a rainha do deserto), onde Marcelo Cerrado interpreta um voluntário do conhecido Festival Internacional de Cinema do Rio. Cerrado vai buscar um ator mal-humorado interpretado pelo ator australiano Ryan Kwanten (?). Bem, além do final inusitado que eu não comentarei aqui, tem uma cena fantástica onde a dupla escala (!!) o Pão de Açúcar sem equipamentos e ao chegar no topo dá de cara com uma cantora toda vestida de Branco cantando 'Eu preciso dizer que te amo'. A cantora em questão é Bebel Gilberto, filha de João Gilberto, que canta o clássico de Cazuza. 

Enquanto muita gente achou a participação constrangedora, confesso que dei várias risadas no cinema quando vi aquele curtinha sem graça se transformando numa coisa muito louca onde uma mulher vestida de branco e imitando um anjo começa a cantar Cazuza enquanto os dois caras chegam exaustos no topo do Pão de Açúcar. Fico constrangida mesmo é pela incapacidade das pessoas de entender o bom humor de Elliot e achar que ele foi cafona. Cafona também é vida. Pastiche também pode ser crítico e é uma estética intencional que dá cero. 

Outro curta que me fez sorrir foi o intitulado Copacabana, dirigido por Fernando Meirelles (Cidade de Deus e 360). Retratando numa luz ousada (estourada, linda) e num ângulo incrível o calçadão de Copa, ele sincroniza os passos dos pedestres com sons, músicas e barulhos. O simpático ator francês Vincent Cassel interpreta um artista de rua que faz esculturas na areia e reconhece, pelo som, uma bela mulher. O que me impressionou mesmo foi a direção de fotografia, o lúdico do filme, o experimental dentro da sequência de historinhas que tecem a linha narrativa do longa. 

Por último destaco o criativo "Vidigal". Neste curta, dirigido pelo coreano Im Sang-Soo um vampiro sobe o morro e se sacia numa zona de prostituição. A história não seria tão engaçada se não fosse a atuação de Tonico Pereira. O ator sênior interpreta o mordomo-vampiro meio robótico, que agrada pela comicidade. 

Fernanda Montenegro fica subutilizada no papel de Dona Fulana, no curta de Andrucha Waddington (Casa de Areia, Eu tu eles) que, apesar do nome, é brasileiro. Ela é uma mendiga sem graça e a questão dos moradores de rua não é tratada com a devida importância, beleza, sinceridade ou o mínimo de criatividade. Rodrigo Santoro também faz um bailarino que não convence muito num curta muito entediante do Carlos Saldanha, onde a apresentação acontece atrás de um pano, só com as silhuetas dos bailarinos. Que obviamente serve para disfarçar que não é Santoro dançando. Não sei, achei estranho. Era pra usar só o nome dele? Por que não valorizar um bailarino da Companhia do Theatro Municial? Wagner Moura, então? Faz umas críticas aleatórias enquanto fala com o Cristo voando dentro de um parapente. Só. Os atores mais famosos não se destacaram. Possivelmente foram chamados para alavancar o filme e tal e tal. 

Realmente, o filme faz parte de uma tendência em vender as cidades como mercadorias para o turista internacional, mas é impossível negar que a reunião de expoentes do cinema resultou em algo que tem seu charme.  

terça-feira, 15 de julho de 2014

Bansky: Exit Through the Gift Shop


Fiquei mais de uma semana enchendo alguns amigos para vermos esse filme e fiquei um pouco surpresa porque alguns não conheciam. Eu achei que o Banksy fosse absolutamente conhecido, mas parece que ele ainda pode ser considerado minimamente underground. Se você não conhece o Banksy... Bem, ninguém realmente conhece. Ele é um grafiteiro inglês que esconde sua identidade, talvez por isso seja tão famoso. Mas não só por isso. Seus grafitis e estêncils são incontestavelmente interessantes. Além do cunho político, eles se desenvolvem com uma conexão sempre direta com o que está acontecendo, como guerras, violência, cultura digital, etc. Ele também interage bastante com o ambiente, não só pintando coisas aleatórias. Ele é, na verdade, um artista plástico completo: também pinta, faz esculturas e instalações. Ah, ele usa constantemente símbolos de ratos e anarquismo. Se um dia você estiver de rolé em Londres, Bristol ou redondezas, preste atenção.



De qualquer forma, esse documentário,  Exit Through the Gift Shop (todinho no youtube, dá para achar com legenda em inglês, português, sem legenda, etc) fala um pouco sobre ele, mas na verdade foi dirigido por ele. A história é o seguinte: um locão francês que mora Los Angeles chamado Thierry Guetta é completamente viciado em filmar. Ele filma a família, seu trabalho, tudo mesmo. Até que começa a filmar grafiteiros em LA, por influência de um primo, que o apresenta a um artista local. Therry passa um bom tempo seguindo esse cara, que o apresenta a várias outras pessoas.



Ele tem incríveis e inesgotáveis horas de artistas de LA pichando e de suas obras. Ao longo do tempo, vira amigo dos grafiteiros - embora todos o achem um pouco estranho. Até que, um dia, Banksy aparece na cidade e acaba precisando da ajuda de alguém. E esse alguém é Terry. Os dois começam uma parceria, com Therry gravando Banksy, uma coisa praticamente inimaginável já que, na época (entre o final dos anos 90 e 2000- imagino, já que o filme é de 2010) Banksy já era um famoso anônimo. Logo Therry vai para Londres e também faz imagens de pichações, instalações e do ateliê de Bansky.

A questão é que Therry ganhou a confiança de Banksy e fez imagens incríveis. Ele se propôs então a fazer um documentário sobre o assunto, que ficou pronto. Porém, segundo Banksy,o documentário ficou uma bosta. Eu procurei o doc e achei um teaser de 15 minutos (o filme teria pouco mais de uma hora). Eu, particularmente, achei incrível. Apesar de parecer psicodélico, acaba dando uma visão interessante sobre a rapidez com que a cena underground cresce e a velocidade que as pichações se tornam arte e são invariavelmente destruídas. O filme se chama Life Remote Control e eu não tive - ainda - paciência de tentar baixar o filme todo em algum canto da rede. Mas o teaser de 15 minutos está no youtube mesmo.



 De qualquer forma, depois de Bansky achar o filme de Therry uma tortura visual, ele resolve dirigir um doc com as imagens de arquivo de Therry, usando-o como personagem principal. O resultado é empolgante. Vale aqui um adendo sobre Therry, que acaba sendo personagem interessante:





 Ele é tido pelos grafiteiros quase como um mascote. Até que resolve ser artista, o que é, na minha opinião conservadoramente contestado. Ele contrata uma turma de artistas para fazer acontecer suas ideias mais loucas e faz uma exposição gigantesca em LA. Ele acaba se tornando um artista pop- no sentido de reutilizar os ícones pops- mas também no sentido de ficar bastante famoso, conhecido como Mr. Brainwash.Alguns grafiteiros acham que ele não faz uma "arte pura", talvez? Mas eu achei os trabalhos dele uma contestação da mídia, e justamente uma reflexão sobre o que pode e não pode ser considerado arte na contemporaneidade.


Se você quer saber mais um pouco sobre o Banksy, leia essa matéria da Super, que pode dar uma ideia. Uma coisa legal é que o Bansky dirigiu uma abertura de um episódio dos Simpsons. É no mínimo cruel. Ah, ele tem um site oficial também. Hoje em dia ele é um cara que vive de grafiti. Tem gente arrancando os muros que ele picha. Mas ele já fez uma ação legal, onde vendeu as obras por sessenta contos nas ruas de NY. Até agora não tenho certeza porque desse nome para o filme. "Saída pela loja de presente"?





sexta-feira, 4 de julho de 2014

Sobre 'Junho': o doc e o mês



Confesso que não sou muito de ver documentário no cinema. Não que eu não goste, mas acho que realmente vai da questão que eles simplesmente não passam muito. De qualquer forma, Junho - O mês que mudou o Brasil me fez sair num domingo chuvoso de casa para ver a ÚNICA SESSÃO DISPONÍVEL, NO ÚNICO CINEMA da cidade do Rio de Janeiro. Inclusive deve estar nas últimas semanas de exibição, então corram se quiserem ver. (Ah, o filme também está disponível no Itunes para ser comprado. Lembrando que para baixar você tem que ter o aplicativo e tal. Enfim, se você tem algum produto da Apple, sabe o que fazer. Infelizmente eles não disponibilizaram online para os mortais.)

~~ parênteses (Primeiramente fiquei horrorizada em saber que um filme que estreou no dia 5 de junho, no final do mesmo mês só estava sendo exibido em um cinema, uma sessão disponível. Eu já falei algumas vezes aqui sobre minha felicidade em ver tantos filmes nacionais pipocando, mas a velocidade com que eles entram e saem de cartaz parecem mostrar como as distribuidoras e cinemas não confiam no que estão fazendo.

Segundamente- risos- queria falar que odeio esses subtítulos. "Junho", somente, era um nome muito melhor do que "Junhoomesqueabalouobrasil", misto de clichezão e tentativa de fazer o público entender que o filme se refere à junho de 2013. Se a criatura está saindo de casa para ver uma sessão escassa do filme, tenha certeza que ela sabe à que Junho- o filme se refere. O público não é besta.

Mas, ao filme: quando eu vejo filmes que tem algum interesse prático na minha vida eu uso bloquinhos de anotação, mas dessa vez esqueci. Então comecei a fazer anotações no celular, com o risco de ser chamada de idiota pelos nazi do cinema que não admitem um pio nem luzes. Eu sou a favor dos cochichos, beijos, risadas altas e comentários inconvenientes- na medida certa. -Ok, esse foi mais um parágrafo de falação. Agora, sim: ao filme.) fim dos parênteses ~~

Mas enfim. O filme foca em São Paulo, já que foi produzido pela TV Folha, um canal bacaninha, vinculado à Folha de São Paulo.  O doc é bem cronológico e aborda as principais questões- sem respostas claras- que envolveram os protestos: a violência, a mídia, a polícia e quem eram os manifestantes.

O doc se posiciona de forma interessante, colocando a mídia como uma grande influência na configuração dos protestos, coisa que o Movimento Passe Livre comentou numa entrevista que eu fiz para o JB. O Doc mostra como os jornais e a TV se posicionaram contra os protestos e os manifestantes, numa postura de manter a situação como estava, execrando aqueles que buscavam mudanças. Vários exemplos são dados, como o editorial da própria Folha, que coloca os membros do MPL como retardados aproveitadores, quando diz que "Sua reivindicação de reverter o aumento da tarifa de ônibus e metrô de R$ 3 para R$3,20 -- abaixo da inflação, é inútil assinalar-- não passa de pretexto, e dos mais vis. São jovens predispostos à violência por uma ideologia pseudorrevolucionária, que buscam tirar proveito da compreensível irritação geral com o preço pago para viajar em ônibus e trens superlotados". Outro exemplo vem divulgado foi também o comentário de Arnaldo Jabour, no Jornal Nacional, que culminou na resposta "não é só pelos 20 centavos".

Depois - no filme eles vão colocando, inclusive, os dias em que as coisas aconteceram- a mídia muda de discurso. A Folha, que tinha feito esse editorial citado acima, intitulado "Retomar a Paulista" ~~retomar de quem, jesus, a paulista é do povo~~ , no dia 13/06, fez mais três nos dias seguintes, intitulados "Agente do Caos", no dia 15, que começa falando da truculência da polícia, mas ainda trata a pauta do preço das passagens como irreal e os manifestantes, especialmente o MPL, como um grupo que abriga criminosos.

No dia 19, com artigo intitulado "Incógnita nas Ruas", eles continuam dizendo que a tarifa zero é impossível, mas colocam o MPL de forma mais branda. ~~Mas por que, Folha, por que a tarifa zero é impossível? Basta o transporte ser tratado como direito, não como lucro!~~

Já no dia 20, eles falaram sobre a "Vitória das Ruas", tratando os manifestantes como "força popular" e exaltando-os como poderosos. Bem, Arnaldo Jabour também se retratou, dizendo que os mauricinhos que faziam as manifestações não eram uma classe média tão besta assim.

Acontece que a mídia criticou veementemente aqueles que iam às ruas, especialmente por causa da violência, esquecendo um pouco a violência policial contra pessoas, em favor de objetos- defendendo lojas de depredação, garantindo a segurança da propriedade privada. Aqui, o doc traz uma questão importante: existe revolução sem violência? Até que ponto os flagelados devem se preocupar com mercadorias, lojas, depredação? Não só os flagelados, mas aqueles que - classe média ou não- se importam de alguma forma com a pobreza urbana que veem todos os dias. Aqueles que exploram de forma tão desonesta e injusta, merecem perdão e justiça?. Essa pergunta pode parecer lógica para muitas pessoas, mas é preciso coragem para um filme fazer essa pergunta, com a possibilidade ser acusado de incitar o anarquismocomunismodepredaçãoviolênciaguerraódiocrime, só em questionar.

O fim dos protestos, segundo a visão do filme, se baseia muito na mistura de pessoas que começaram a invadir as ruas e rachas nas pautas.A extrema direita, militantes de partidos, pessoas despolitizadas, que mal sabiam sobre o que eram os protestos. Isso levou à minguar as causas e os protestos. A questão de que as pessoas não deixaram as diferenças de lado por uma pauta maior, por uma pauta só.  Pode ser. Também. Mas eu penso que, depois que a mídia se colocou do lado dos manifestantes, com uma segurada na violência policial, houve justamente o que o pessoal do MPL me falou na entrevista: a perspectiva dos traumas.

As pessoas  ficaram traumatizadas com tanta violência e pelo que foi conseguido - redução das passagens- ser retirado. O MPL também culpa o fim dos protestos pela criminalização dos manifestantes e o Caso Santiago, onde um cinegrafista da Band morreu, no Rio, em fevereiro. Os dois acusados de atirar um fogo de artifício que atingiu o profissional na cabeça estão sendo acusados de homicídio doloso, quando há intenção de matar. Para o MPL, isso é mais uma prova que a mídia, martelando no assunto incessantemente durante dias, também foi bastante responsável pelo fim dos protestos. Bem, pessoalmente, acho que tudo faz parte de uma mistura meio incompreensível que levou ao fim. Mas o que realmente fez diferença foi: pessoas mobilizadas, politizadas continuam fazendo protestos. Mas quem estava indo só na onda, não faria aquilo para sempre. Querendo ou não, para juntar tanta gente, só com a presença de pessoas não tão mobilizadas assim.

A maior parte das pessoas que não era mobilizada em prol de pautas políticas ou sociais antes do protesto, não está mobilizado agora. Acho. O mais importante - pra mim- é a pequena parte que, devido aos protestos se politizou. Não sei se isso aconteceu em grande escala. Mas se os protestos ajudaram a esclarecer algumas pessoas - eu sei que elas existem porque me vejo como uma delas- já valeu grande coisa.

Sempre fui extremamente cética com relação à movimentos sociais, políticos e eleições, num pensamento fechado que não adianta. Está comprado. Uma grande conspiração nos guia. É isso e é isso. Vamos viver a nossa vidinha, fazendo o bem localmente. Só quero me isolar ao máximo de tudo que é ruim e seguir em frente. Se eu seguir na minha consigo minhas coisas e foda-se. Durante os protestos simplesmente ignorei os chamados de amigos que iam às manifestações. Um pouco por realmente não entender direito o que aquilo iria significar- sentia medo de estar sendo manipulada. E por outro lado, pensava que aquelas pessoas que iam não sabiam do que estavam falando. Não sei até que ponto mudei, mas algo mudou. Real e sinceramente.

Pensando melhor, refleti que as pessoas não precisam saber exatamente do que elas estão falando para estarem insatisfeitas. Não precisam saber exatamente quem culpar para ir às ruas. O fato é que a mobilização popular mudou alguma coisa. Ela chocou, abriu os olhos, abaixou as passagens!  E, de uma certa forma Junho de 2013 me fez acreditar na minha profissão novamente (o jornalismo). E sem pieguices, no poder do povo. As redes sociais, uma tecla bem batida no doc, foram essenciais. Um jornalista das antigas chega a falar que as revoluções aconteceram, acontecem e acontecerão, com ou sem internet. Sim. Mas ela foi essencial dessa vez, não pelas convocações, mas sim pelo poder de, nesse país onde a imprensa parece sempre estar do lado do mais forte, mostrar os discursos alternativos. Um complô de pessoas que se importavam enchiam, lotavam, transbordavam as redes sociais com vídeos, fotos e depoimentos que contradiziam o que a mídia falava, ou pelo menos mostrava um outro lado. E os discursos alternativas começaram a fazer muito mais sentido do que o mais difundido. Isso foi simplesmente genial. O discurso alternativo mudou o discurso "oficial", "institucionalizado". Ainda que a Folha seja um grande jornal que errou bastante, esse filme foi um discurso alternativo respeitável.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Domínio Público: sobre o doc e sobre outras coisas





Domínio Público (dirigido por Fausto Mota, Raoni Vidal e Henrique Ligeiro) é um documentário que fala sobre mudanças no Rio de Janeiro, em função dos mega eventos. Ele foi financiado coletivamente e aborda bastante a questão dos protestos de junho que, de alguma - ou de muitas formas-, mostraram a indignação das pessoas com a Copa do Mundo, principalmente. 

Outros mega eventos aconteceram na cidade nos últimos anos. O primeiro deles foi o Panamericano, em 2007, que pouco legado estrutural ou social deixou. Em 2013, a Jornada Mundial da Juventude e a Copa das Confederações foram motivo de preocupação para muitas pessoas quando a primeira teve que ser transferida de última hora de local, porque o lugar designado alagou; e, a outra, pelos altos preços dos ingressos e o começo do que foi - está sendo- visto na Copa: remoções, especulação imobiliária e violência policial durante manifestações. 

O que mais me chamou atenção nesse filme foi a vontade que eu tive que algumas pessoas assistissem. Infelizmente essas pessoas são justamente aquelas que eu acho que provavelmente não vão assistir. 

Algumas pessoas são de fato contra a realização da Copa. Algumas pessoas não entendem como outras são contra ou não se importam com a Copa. Muitas ficam divididas entre gostar tanto de futebol e ver como o evento serviu para legitimar tanta coisa ruim. Outras não se importam com essas coisas e gostam da Copa, porque sim.  Depois de acompanhar - a distância- remoções, manifestações, acordos e decisões duvidosas por parte do Estado, estou com nojo da Copa. Só isso. Esse filme condensou o assunto de um jeito tão didático que me deixou triste. Tipo uma coisa que finalmente estala, quebra e acaba de vez. 

O filme conta com depoimento de autoridades e especialistas em segurança pública e principalmente de pessoas que, de alguma forma, tem vínculo com as favelas, aqui entendidas como territórios diferenciados e segregados da cidade de fato, tanto na composição geográfica quanto na social. 

Cleonice Dias é Coordenadora do Centro de Estudos e Ações Culturais e de Cidadania (Ceacc), uma ONG que trabalha na Cidade de Deus, em parceria com a Action Aid. Para ela, o território das favelas está sendo ocupado de forma errônea pela polícia militar, que entra nas favelas para tomar o lugar do Estado. Ela fala disso no contexto da ocupação militarizada das favelas no rio, que aconteceu -e acontece- através das Unidades de Polícia Pacificadora (Upps): "Essa polícia vem hoje travestida de boazinha, de policia cidadã, que vai pacificar", completa ela, não parecendo acreditar de fato na pacificação que a Upp pode trazer. 


A própria polícia vê com olhos inseguros o modelo no qual a segurança pública de uma cidade é dividida territorialmente de forma diferenciada, como é a fala do delegado da polícia civil do Rio, Orlando Zaccone. "A critica que se constrói não é a presença da polícia, porque a polícia esta presenta em todos os ambientes da cidade. O que podemos criticar é a transferência do poder de governo para o comandante militar. A partir daí você trabalha esse espaço territorial com um espaço de guerra, conde as pessoas são revistadas e tratadas como suspeitas, etc", comenta ele. 
 Ele ainda se questiona "Não é para dizermos que o modelo anterior de ocupação territorial de grupos armados do tráfico ilícito era melhor, mas qual a diferença entre você ter as decisões sobre a vida de uma comunidade na mão de pessoas armadas no tráfico e transferir essa decisão para a polícia? A polícia tem que ter o papel e seu espaço de atuação dentro da sociedade. Ela não pode expandir". 

Alguns especialistas em segurança pública do Rio têm essa mesma visão da Upp: a polícia não tem que fazer o papel do Estado, de organizar e prover direitos e benefícios. Eu já fiz algumas entrevistas sobre esse assunto e certas coisas que eu ouvi me fizeram concluir que a Upp é um bom projeto, mas mal executado. 

Eleonaldo Julião, sociólogo e professor da UFF me deu uma entrevista uma vez e falou que a ocupação policial não era o objetivo e nem é suficiente para resolver os problemas de criminalidade nem sociais do Rio, coisa que parece tão óbvia, mas, no começo das Upps não era sequer conjecturado por se mostrar como, finalmente, uma movimentação do Estado para integrar as favelas ao resto da cidade. Afinal, a favela faz parte da cidade. O favelado também é cidadão. Não?  "O simples fato da entrada dos policiais não é o suficiente. A política da UPP, na teoria, apresenta uma 'segurança cidadã', que não existe, que está se restringindo a entrada de policiais.Uma das questões que se tentou mostrar durante a ocupação da Vila Kennedy, por exemplo, foi uma serie de ações, como a Comlurb limpando as ruas. Uma série de ações que deveriam estar sendo organizadas junto com as UPPS, mas que não estão se efetivando. E o que vai acontecer, é que as comunidades vão começar a ir contra isso, porque elas começam a se sentir lesadas pelo que é a proposta e pelo que realmente acontece". 


~~A mídia~~

O filme conta com outros depoimentos como Mônica Franciso, coordenadora do Grupo Arteiras e membro da Rede de Instituições do Borel e, como acabo de descobrir, colunista do JB. Ela fala um pouco do incômodo do morador de ter essa situação de militarização - Estado de Exceção. E, vendo ela falar eu penso: como é possível um favelado não detestar a Polícia Militar, que comanda, de forma direta todas as suas ações? 

No artigo chamado Um ano, uma fala destacada por Mônica me chamou atenção: "Galeano diz que na,  América Latina, a liberdade de expressão consiste no direito ao resmungo em algum rádio ou em jornais de escassa circulação. E é isso que está sendo subvertido, e é justamente isso que atemoriza, causa espécie, mal-estar". 

Será que a mídia tem realmente o poder de mudar alguma coisa? Eu penso em todas as revoluções que já existiram - as coisas boas e ruins que elas trouxeram e toda a violência que foi preciso. Mas toda a violência que já existia antes. Fico pensando se o mundo é isso mesmo, violência exploratória, que gera violência rebelde, que pode gerar violência controladora e normativa. E só. A mídia parece incitar a violência, ora na esperança de mudar, ora na esperança de manter o status quo. A grande questão da mídia é o seu poder, que deveria ser de informação, mas acaba sendo de convencimento. Mas a linha entre os dois é tão tênue, que não sei se ela existe de fato. 

No doc constam vários depoimentos e os que me chamaram mais atenção foram, não os dos especialistas, mas das pessoas diretamente atingidas. Tanto por sentir a injustiça que elas sofreram quanto por ver quanto essas pessoas estão politizadas e tentando de fato melhorar o território que elas vivem, seja com o apoio do Estado ou não. Em reação à todos esses confrontos, vai surgindo um lugar onde "as pessoas lutam mais e se insurgem mais", como reflete Maurício Campos, engenheiro e membro do Coletivo de Técnicos Voluntários Contra as Remoções.

Depois de toda essa ruminação pensativa e inconclusiva:




ps.: Viva a iniciativa de colocar online o conteúdo. Por um mundo onde TUDO seja assim. 

domingo, 8 de junho de 2014

Cinema Marginal: o vampiro da cinemateca



Jairo Ferreira, autor, protagonista e o próprio Vampiro
O Vampiro da Cinemateca, de 1977, dirigido por Jairo Ferreira é um dos filmes mais experimentais do Cinema Marginal. Com uma linguagem que beira ao documentário, com voz off constante e cortante de Jairo, o filme faz uma montagem com diversas imagens de outras obras cinematográficas e de imagens filmadas com Super8 de Jairo.

Ele se posiciona como um crítico, tanto da cultura de massa, quanto de outras situações. Ele faz críticas também a cultura nacional, e ao cinema novo. Em um momento, ele diz: “O cinema novo é um cadáver gangrenado. Um movimento de direita que se julga de esquero, Glauber rocha diz que vai descobrir o certo através do errado, Glauber é uma instituição brasileira, ou seja, ele vai descobrir que ele é o novo lima Barreto na linha direta de rui Barbosa”. Isso mostra todo o desprezo do movimento marginal pelo cinema novo, ainda que este bebesse nas descobertas e obras daquele. Ainda falando sobre Glauber Rocha, maior expoente do cinema Novo, Jairo faz uma crítica direta “Não adianta Glauber, pode estribuchar. Você nunca vai ser o Maiakovski brasileiro”.

O filme não segue uma linha narrativa clássica, intercalando imagens que parecem aleatórias. O único personagem recorrente é o próprio Jairo, que parece fazer o papel do vampiro da cinemateca. O autor costumava chamar esse tipo de filme de “cinema de invenção”. Em certa hora do filme, ele diz “é preciso inventar novos signos”.

Com muitas referências a arte concreta, a antropofagia de Oswald de Andrade e ao cinema artesanal pré-marginal de Mujica, o Zé do Caixão, Jairo parece querer inventar um novo significado para a arte cinematográfica. Em certo momento, ele diz “estamos na trilha da antropofagia anti-colonialista, metalinguagem, sem linguagem, translinguagem, meta super 8, cinema concreto”. O filme é justamente um exemplo dessas abstrações de Jairo. O filme é metalingüístico, porque fala de cinema e seu papel, além de inserir imagens de outros filmes; é concreto, a medida que faz o cinema pelo cinema, a filmagem pela filmagem, o som pelo som – a arte pela arte- sem a necessidade de contar uma história, pregar uma ideia específica ou se propor a ser didático.

O filme é uma obra da montagem, onde seu todo só adquire alguma significação – experimental e inovadora- através das sequenciação. A relação com Mojica e sua admiração fica clara até no título, fazendo referência ao vampiro, um dos personagens favoritos do Zé do Caixão. Este que foi um dos precursores no cinema de gênero brasileiro e provavelmente o mais bem sucedido no quesito terror. Embora com uma estética e ideologia completamente diferente dos marginais, eles incluíram Mojica no seu movimento. A estética suja, as câmeras e o baixo orçamento eram realmente pontos em comum, mas não o maior deles. O objetivo dos Marginais era usar o grotesco para chocar as pessoas, com um objetivo claramente político, porque afinal, eles próprios eram politizados e jovens que sofriam com a censura. Queriam proporcionar um choque de realidade nas pessoas. E com seus filmes de terror, amadores, grotescos e sem um estudo cinematográfico acadêmico, era justamente isso que Mojica conseguia.


Jairo também quer – e consegue- chocar. Seja com a cena de masturbação, seja com o homem em frente ao espelho, cuspindo sangue. Com as ideias de antropofagia na cabeça, Jairo quer desconstruir o cinema, chocar, fazer pensar, usar referências estrangeiras, mas construir um cinema crítico e que não se tenha visto nada igual antes. Ele consegue de fato ser um dos expoentes do cinema marginal e não se viu nada parecido com seus filmes antes – ou depois, pela força imagética e pela força do próprio diretor que, além de personagem, se torna o próprio filme.

O filme está (uhul) no youtube, dividido em partes, com a qualidade ruim, mas é uma oportunidade vê-lo. Sem brincadeira.  

terça-feira, 3 de junho de 2014

Francês: uma viagem extraordinária

Criança fofa e fotografia incrível

O novo filme de Jean-Pierre Jeunet (diretor de O Fabuloso Destino de Amélie Poulin e Alien, a Ressurreição) conta a trajetória de um menino gênio que inventa uma máquina de movimento perpétuo e ganha um prêmio de uma instituição que não tem ideia que ele é uma criança. Uma viagem extraordinária (The Young and Prodigious T.S. Spivet) é uma mistura de Road movie, aventura infantil, delicadeza e fofura. Francês, sim, em todas as características. Mas rodado em inglês. Vai entender.

O menino se chama T.S. Spivet (Kyle Catlett) e depois de perder seu irmão mais novo num acidente com uma arma no celeiro, que ele presenciou, foge de casa para receber seu prêmio. A criança prodígio desenvolve uma grande culpa pela morte do seu irmão e a depressão da mãe. Ainda sim, qualquer cena do filme poderia ser considerada alegre, se vista sem movimento. As cenas são lindas, chamando atenção pelas cores e indumentária. A fotografia e qualidade técnica são simplesmente incríveis. Quem viu Amélie Poulin lembra de como as cores vibrantes e as misturas quase burlescas fizeram sentido na trama. Acontece o mesmo. A infância permanece durante todo o filme, tanto no carisma do ator-mirim-lindo-fofo, quanto na delicadeza recorrente do cinema francês.  

Outra recorrência no cinema francês a comédia/drama, que não tem um humor de gargalhar, mas de fazer esboçar sorrisos, às vezes seguidos de lágrimas. Todos os perigos que Spivet encontra durante sua viagem não são verdadeiramente perigosos, como o caminhoneiro fotógrafo e o policial bonachão. São elementos que contribuem para sua viagem no estilo infantil, se contrapondo com os insights de adulto do menino. Denis Sanacore fez a trilha sonora, que completa a trama de forma bacaninha. Também está presente a sempre linda Helena Bonham Carter, interpretando a mãe de Spivet. Os temas principais do filme –a morte e a culpa- são tratados de uma forma singela. Jeunet parece buscar um entendimento sobre as questões, do ponto de vista infantil e simples. 

O cinema francês vem fazendo relativo sucesso no Brasil- pelo menos vem sendo exibido constantemente nas salas alternativas do Rio de Janeiro. As comédias/drama estão entre os principais lançamentos e costumam contar com elementos recorrentes: a delicadeza, as cores pasteis ou muito coloridas e uma produção impecável. 

A França é o terceiro país em produção cinematográfica em nível mundial e ocupa a segunda posição na distribuição de filmes no mercado internacional. Em 2005, mais de 73 milhões de pessoas assistiram a filmes franceses em todo o mundo.

Segundo um relatório do Instituto Franco-brasileiro de Administração de empresas (Inbae), o consumo do cinema brasileiro vem mudando nos últimos tempos, mas ainda enfrente dificuldades em colocar os filmes franceses em circuito, que são considerados muito “cult”. Ainda sim,o relatório relembra alguns casos de sucesso, como‘Swimming Pool - À Beira da Piscina’ e ‘As Bicicletas de Belleville’, que tiveram, respectivamente 117 e 105 mil expectadores e foram mantidos por 40 semanas em cartaz no circuito brasileiro.

 Lembrando rapidamente consigo pensar em alguns que fizeram relativo sucesso por aqui: Amour, um drama que não deixou ninguém descartar os lenços; O pequeno Nicolau, que também têm um protagonista menino e fez minha tarde mais feliz; e Grand Central, que não convenceu nem como drama nem como romance.

Bem, para quem mora no Rio de Janeiro, tem duas opções maravilhosas (e gratuitas!) para ficar mais por dentro do cinema francês. A primeira dica é o cineclube Cinemaison Rio, da Embaixada Francesa. Eu nunca consegui ir, mas fico aguando na programação. Toda segunda feira a noite (normalmente as 19h) acontece sessão de um filme francês, com legenda. A programação de junho e julho já está online. E uma novidade: durante esses meses, acontecerão sessões na parte da tarde também. 

A outra dica é a Aliança Francesa. O curso de idiomas está sempre fazendo sessões de filmes franceses, mas com um probleminha (ou problemão): alguns sem legenda. Vale a pena dar uma olhada no site e conferir a programação. Neste mês de junho, os filmes terão a temática do futebol. A Aliança Francesa também promovo exposições, lançamentos de livros e debates.


quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Fim e o Princípio


O Fim e o Princípio começa com Eduardo Coutinho falando que ele e sua equipe foram até a Paraíba fazer um filme sem nenhuma pesquisa previa, em quatro semanas. O que eles queriam era achar uma comunidade rural que os aceitasse, e procurar bons personagens para fazer um retrato do interior do Nordeste brasileiro. Talvez eles não achassem nada...e aí o filme seria sobre isso. A busca incessante que não deu em nada. 

Felizmente deu em alguma coisa. Bastante coisa. O doc consegue retratar a realidade do sertão, caindo certeiro em cima desse tema rural depois das últimas produções de Coutinho terem sido sobre a cidade: Edifício Master e Babilônia 2000, ambos retratando paisagens e personagens urbanos cariocas. 


Eles tem a semelhança de se basearem quase que exclusivamente no que os personagens podem proporcionar, o que eles podem trazer para quem assiste o filme. O Fim e o Princípio traz a temática da morte muito presente, no ponto em que consegue encontrar sertanejos idosos, alguns que parecem centenários, que tem uma visão única sobre a pobreza e a morte que se aproxima. Coutinho parece assim, fazer um paralelo com a sua própria idade e morte próxima, já que ele estava com 72 anos quando fez o filme. 

Por mais que em Edifício Master e Babilônia 2000 nos coloquem em contato com personagens diferentes, quase que excêntricos, ainda assim, eles não proporcionam o contraste que O fim dá. A diferença da estética nordestina é clara assim que os entrevistados aparecem em tela: a pele bronzeada, as rugas fortíssimas, o rosto castigado pelo sol, ainda sim, idosos fortes, acostumados ao exercício diário necessário para os trabalhos rurais. 

Esse tipo de iniciativa, de ir até o interior do país para tentar mostrar ao Brasil justamente o que é o Brasil, pareceu uma preocupação real de Coutinho. O homem urbano contemporâneo, aquele que mais vai ao cinema, mal vê o que acontece no interior do país. Mal tem noção de como é a vida, a cara das pessoas, se não se aventurar para além das praias paradisíacas das cidades turísticas nordestinas. 


Lindamente o filme também está completo no Youtube. Sejamos felizes



Cinema Marginal: Os Monstros de Babaloo



Os Monstros de Babaloo (1971), dirigido por Elyseu Visconti é um filme marginal, sem dúvidas. Porém, para quem já viu algumas obras do Cinema Novo e do Cinema Marginal, fica a impressão de que ele é mais linear e menos fragmentado. O que não tira em nada a inovação e o experimentalismo do movimento. 

Enquanto muitos filmes marginais impediriam que uma resenha como essa começasse com a frase  “o filme conta a história de...”, esse é razoavelmente tranquilo de identificar o tema e a história principal. O filme conta a história de.... Bem, de uma família industrial/burguesa carioca, retratando o relacionamento nada saudável entre seus membros e fazendo uma crítica severa aos valores dessa classe.

O filme tem uma característica acentuada do grotesco e de um cinema que precisa agredir o espectador para se fazer entender. As cenas onde o filho com problemas mentais  (Kleber Santos) é maltratado pela mãe, ou torturado por homens desconhecidos, são extremamente incomodas e esta segunda faz um paralelo direto com a ditadura militar que censurou completamente o filme, na época. Todo o filme tem diversas metáforas para lidar com o regime e com as mudanças sociais e políticas dos anos 1970.

Quando a família canta uma música que era símbolo de nacionalismo, ao mesmo tempo podemos ver como eles são tratados de forma grotesca e feia. A matriarca da família (Wilza Carla) é obesa e em alguma cenas come de forma fervorosa, até fazer com o que quem assiste fique enjoado. Ela trata seu filho, com problemas mentais, como um constante incômodo.

O chefe-da-família, por sua vez, mostra total inabilidade de lidar com os próprios negócios, tem uma imagem velha e um tanto débil, sendo passado para trás pela mulher e também pelas amantes, que só o querem por seu dinheiro.

O interesse e aprovação burguês do estilo de vida americano é presente o tempo todo: toca-se uma música sentimental em inglês, o irmão com problemas mentais e a irmã (Helena Ignez) usam camisetas de universidades americanas e a menina diz que precisa ir para Nova York. Além disso, em certa cena, a mãe diz que quer ir para bem longe do país, para um outro lugar. Isso demonstra muito da “geleia cultural” que veio com o Tropicalismo, passando pela antropofagia de Oswald de Andrade, onde o Brasil consegue se afirmar sua identidade nacional sem rechaçar a influência de outras culturas, mesmo as que são julgadas como opressoras: europeia e americana.

O filme é realmente mais engraçado do que muitos do cinema marginal costumam ser. Tem uma forte relação com as chanchadas, lançando piadas e performances dos atores bastante voltadas para a comédia escrachada, especialmente a empregada Zezé Macedo, que tem um papel surpreendentemente cômico. As alegorias são essenciais no cinema marginal, e nesse filme elas são bastante claras quando remetem o tempo todo a uma família burguesa quase que grotesca. 


O filme está completo no Youtube, embora a qualidade não seja tão boa. 

segunda-feira, 10 de março de 2014

O Robocop de Padilha


Tenho ouvido - e lido- muito a respeito do Robocop que desde que começou a aparecer é seguido pela expressão "do Padilha". Por que importa tanto o Robocop ser do Padilha? Ou será que o Robocop só importa, pelo menos para nós, por que é de Padilha? É isso.

O interesse de muitas pessoas na superprodução é claramente referente ao papel de Padilha como diretor. Boa parte do público que vai assistir é aquele regular de filmes de ação "industriais", ou de filmes de "super-herói". Mas eu tenho visto muita gente que não assistiria esse tipo de filme querendo conferir a produção só pelo diretor. E o que está acontecendo para ele estar em uma superprodução de 130 milhões de dólares.

Bem, eu acho que as barreiras estão diminuindo. José Geraldo Couto falou que para o que os produtores queriam, Padilha era o suficiente. No sentido de que eles queriam um filme de ação, hollywoodiano, com alguma perspectiva política. O crítico ainda diz que outros diretores poderiam elucidar as questões em pauta -violência, inteligência artificial, relação médico/monstro- de forma muito melhor. Talvez sim, mas como ele mesmo disse, não era o objetivo. O objetivo é um filme de herói para a massa. Isso é tão ruim assim? E eles ainda estão com muita moral por juntar isso com elucidações bem feitas sobre questões morais e políticas, mesmo que não transforme o negócio num embate ideológico intelectual.

Foi melhor - muito melhor- do que os últimos filmes de ação que eu vi nos últimos tempos. (Lembro claramente que queria me enfiar num buraco quando fui ao cinema ver a quinta sequência de Duro de Matar. Ainda levantando questão das armas biológicas e da Rússia do mesmo jeitinho que se tivesse sido feito durante a Guerra Fria.)

Vejo de forma bem positiva a inserção de Padilha em Hollywood.  Só mostra que as indústrias estão mais abertas à outras formas de fazer arte. Vale lembrar que o roteiro não é dele, e não sei qual foi sua influência na criação das cenas. Mas as inserções do repórter americano ufanista para mim fizeram todo sentido no discurso latino-americano da coisa. É assim, como uma caricatura, que os absurdos americanos parecem para nós- pelo menos para mim.

A cena onde o Robocop tira sua armadura também foi surpreendente. E não muito agradável. Fico imaginando se num blockbuster de uns anos atrás, com um diretor americano essa cena existiria. É clara ali a vontade de sacudir o espectador. Pelo menos me sacudiu. Quando reclamam da exposição da violência de Padilha, entendo. Mas as vezes assim, chocando, se faz pensar e dialogar.

Agora falando mesmo da direção, se o intuito era mostrar a automatização da violência, conseguiu. As sequências de ação - que para um filme de ação não são muitas (para frustração da minha mãe, fã de carteirinha de filme bobagento só com luta e sangue)- foram realmente boas.

Padilha fez o trabalho dele, dirigindo um filme hollywoodiano. Não é porque ele é brasileiro, ou andou fora desses circuitos, que não merece seu pezinho na indústria e ganhar algum dinheiro. E, querendo ou não, subiu sim o nível dos filmes de ação.


terça-feira, 4 de março de 2014

'Eles voltam' e a volta por cima do cinema nacional


"Eles Voltam" estreia na próxima sexta-feira, dia 7 de março. O título promete, mas bem, acontece que eles não voltaram. A história conta a trajetória de Cris, que depois de uma briga com o irmão, é deixada na estrada pelos pais. Depois de perceberem que os pais não vão voltar, o irmão sai para procurar ajuda. Cris continua no meio da estrada do interior, esperando. Até que vê que ninguém vai voltar, e segue, meio que sem rumo, em frente. No começo, nem dá para saber se ela realmente quer voltar para casa ou não, tamanho seu silêncio e aceitação. 

Ela é ajudada por um adolescente que mora em um acampamento do MST, o que contrasta incrivelmente com sua origem de classe média de Recife. O que constrói o filme são essas contradições brasileiras que todo mundo sabe que existe, mas poucas pessoas presenciam. Quantos, provenientes da classe média urbana, já estiveram em um acampamento do MST? 

É interessante também a retomada do cinema nordestino, especialmente quando se vive no pólo Rio-São Paulo. Ir no cinema e ver um outro tipo de Brasil, de brasileiro é simplesmente bonito. Pensamos no Brasil e encarnamos os cariocas como brasileiros, esquecendo que num país com mais de sete milhões de metros quadrados e mais de 200 milhões de pessoas, ser carioca é ser do Rio, e não ser do Brasil. Rio e São Paulo englobam pouco mais de 30 milhões. São 170 milhões espalhados pelo resto do território, fazendo cultura, festa e cinema, de um jeito diferente. E tão pouco chega até nós! Acabamos nos acostumando com a produção do mesmo, com os mesmos sotaques, os mesmos problemas, as mesmas belezas. E ninguém parece perceber. Até tomarmos uma porrada na cara, como foi O som ao redor. E a partir disso, outros empurrões, como Cine Holliúdiy e, agora, Eles Voltam. 

Maria Luiza Tavares, encarnando Cris, de 12 anos, tem um sotaque encantador, assim como Elayne de Souza, uma amiga da família que ela finalmente encontra depois de certo tempo. O diretor do filme, Marcello Lordello, escolheu, no seu filme de estreia, trabalhar com não-atores. Essencial. Impossível para um ator ter as rugas e os trejeitos da mãe do menino do MST, que socorre Cris. Talvez impossível alguém interpretar a passividade de Cris, que parece ser mesmo é de Maria Luiza. Em entrevista, Marcello disse que quis não atores depois de assistir Iracema, uma Transa Amazônica, do Orlando Senna e do Jorge Bodanzky e Os Incompreendidos, de Truffaut,. 

Interessante também a trajetória do irmão não ser mencionada. Interessante e acertado. Cris é o centro, não porque é protagonista, mas porque é uma das protagonistas de inúmeras histórias. A impressão é que cada personagem daria um filme. A beleza natural de Elayne, sua história de jovem meio perdida, a intelectualidade brasileira em meio a pós graduação, drogas e amores sem jeito poderiam dar outro filme (por favor!). Sem contar as filhas da senhora do MST que, num segundo momento, ajuda Cris. Como será a vida dessas meninas do interior, do MST, que ajudam a mãe como faxineira, mas querem fazer faculdade em outra cidade? 

O filme vale a pena pelos sotaques, pela beleza das cenas e pelo silêncio, que as vezes é difícil de encontrar na dose certa. Que mais gente do nordeste chegue até o circuito nacional. E mais gente do sul, centro-oeste, norte... Mais uma vez penso no dia que todos as salas de um cinema serão ocupados por filmes nacionais, não seria tão bonito? 






quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Trapaça: bem legítimo!


Trapaça é um desses filmes de Golpe que não tem como não gostar. Tem ritmo, tem bons atores, é uma superprodução. Alguns argumentam que o final é batido, pouco original. Mas sei lá. As vezes o filme não vale a pena só pelo enredo, mas por pontos específicos. 

E em Trapaça, os atores estão fantásticos, especialmente as duas mulheres principais da trama. A  protagonista Amy Adams, é mais conhecida pelo papel bobinho de Giselle, em "Encantada"- aquela princesa que vem para o mundo real. Mesmo nesse papel supostamente bobo, ela ainda conseguiu ser indicada a um Globo de Ouro. 

Bem, em Trapaça, sem os exageros da maquiagem que acometem Hollywood, podemos observar a beleza de uma mulher de 39 anos, de uma forma muito mais real do que o cinema costuma nos permitir. Ela tem olheira, pelos nos braços, barriguinha saliente em alguns ângulos, apesar da magreza. E manda bem como atriz. E é linda. E ruiva.  

Bem, a mesma coisa a dizer da nova queridinha da América Jennifer Lawrence. Depois de ganhar um Oscar pela abominável comédia Lado Bom da Vida, finalmente outro filme digno de seu talento. 

O primeiro filme que eu vi com Lawrence foi uma produção independente, canadense, Winter's Bone. Ela era simplesmente a alma do filme. Não lembro direito sobre o que era. Uma garota sem muita perspectiva, numa cidade pobre, que trabalhava como um homem, provavelmente para cuidar de algum membro da família. Mas Lawrence, adolescente ainda, fez o filme ficar conhecido. 

E aí, depois de uma superprodução de super-herói, ela ganha o Oscar com uma comédia. É como dar o Oscar para o cara do Superman (embora não duvide que isso já deva ter acontecido). Não sei. Acho estranho O Oscar prezar tanto pelas superproduções bobas que não acrescentam absolutamente nada, mas acho que isso é normal mesmo. 

Mas enfim, como Rosaline, Jennifer está incrível. Rosaline é uma dona de casa muito pouco razoável com seu marido, uma verdadeira caricatura. Mas o melhor é que ela sabe disso, e explora a tristeza do fato de forma irônica e engraçada. 

O filme conquista não pela história. Mas pela ambientação, figurino e especialmente interpretação. Nenhuma trapaça a vista. Nem cilada. 



sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Quando eu era vivo: suspense à brasileira

A estagnação do cinema brasileiro parece estar oficialmente acabada. Depois do Cinema Novo e do Cinema Marginal arrastando multidões para os cinemas para ver filmes experimentais na década de 1960, vieram as chanchadas e uma grande produção através da Embrafilmes até os anos 1980. Quando a empresa foi fechada em 1990, por Fernando Collor, um baque foi sentido no cinema brasileiro.

Em 1996, a indústria cinematográfica respirou com o que foi chamado de Cinema Retomada, mas só a partir de meados dos anos 2000 é que o cinema realmente voltou a ser uma prioridade, com a criação do Fundo Setorial do Audiovisual. Bem, deu certo. Ou melhor, está dando certo. Os últimos filmes brasileiros têm sido sucessos de crítica e bilheteria, e mais importante: ocupam as salas dos cinemas nacionais, onde, durante muito tempo, só se viam títulos estrangeiros -- em traduções mal trabalhadas, diga-se de passagem.

Os títulos são inúmeros (O Som ao Redor, A floresta de Jonas, Faroeste Cabloco, Xingu, Uma história de amor e Fúria, etc). Melhor ainda: a típica comédia está cada vez mais dando espaço a outros tipos de filme. Depois do lançamento do terror trash "Mar Negro", chega "Quando eu era vivo", uma mistura perfeita de ocultismo, cultura brasileira e classe média, dirigido por Marco Dutra.

O suspense -- que só não é terror por uma linha tênue, que parece ser definida pelo tanto que se mostra ou deixa de mostrar -- é protagonizado pelo desconhecido Marat Descartes, no papel de Júnior, um homem problemático que volta a morar com o pai viúvo depois de se separar da mulher. Descartes e Dutra, por sinal, já fizeram um outro filme juntos, o terror "Trabalhar Cansa", de 2009.

Até aí parece que um drama familiar vai se desenrolar, já que o pai, interpretado por Antônio Fagundes, tirou todas as coisas da mãe da casa, em busca de uma nova vida, e o filho quer as memórias reconfortantes da sua infância de volta. Fagundes, por sinal, nem parece estar interpretando. Simplesmente encarnou o senhor de classe média preocupado com a saúde, com a aparência, com a juventude, uma característica mais presente que nunca nos velhinhos dos últimos tempos. Apesar da barriga -- ou talvez por causa dela -- convence.

Mas aí, no meio desse pequeno drama classe média, surge o fantasma da mãe morta. Completamente identificável no nosso país, era aquela mulher que "tinha suas esquisitices", uma mistura de superstição com ocultismo. Até que a coisa vai longe demais e ela começa a se comunicar de formas estranhas com o filho, querendo que ele cumpra uma missão sombria.

O filme assusta. A música e a montagem, por sinal, são dois pontos fortes. O bom teria sido anotar o nome de todas as pessoas envolvidas com a produção e edição do som e da trilha sonora do filme, só para poder elogia-las nominalmente. No meio do filme, descobrimos uma música que seria um mantra para o demônio. Basta dizer que você sai do filme com ela retumbando na cabeça.

Todos os atores estão em ótima forma, com o perdão do trocadilho não muito verdadeiro para Fagundes, no quesito corpo. Mas as atuações surpreendem positivamente. Até mesmo Sandy Leah, no papel de Bruna, a estudante que aluga um quarto na casa de Sênior está okay. Ela ainda parece uma cantora fazendo uma ponta como atriz, mas okay. Mesmo beirando os 30 anos, ficou até parecida com uma estudante universitária, apesar do incômodo que tanta maquiagem cause.

A produção, no ápice do tipicamente brasileiro, traz uma manicure, que também é conselheira e rezadeira. Miranda, papel de outra desconhecida do público, Gilda Nomacce, é simplesmente fenomenal. Já na primeira cena ela chega naquele tremor, naquele medo precavido das pessoas que parecem ter algum tipo de sensibilidade extra.

É muito bom reconhecer, num filme de suspense, as características brasileiras. É bom poder sentir sem reticências aquele sentimento horrível que filmes de suspense trazem. De uma forma totalmente não maquinal, porque ali, na tela, você parece estar vendo sua família, seu vizinho. Nos filmes estrangeiros, especialmente os americanos, sempre sobra uma sensação de que "aqui não seria assim". Ou aquela coisa de não conseguir se conectar a pequenas coisas como a neve, o aquecedor, o triturador do ralo da pia. Coisas pequenas, mas que simplesmente não te deixam entrar completamente em cena. Em "Quando eu era vivo", só resta o "é assim mesmo que acontece", na nossa mente. Se não isso, pelo menos um "é assim que poderia acontecer".


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Post originalmente publicado no Opinião e Notícia