segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O que o cinema me ensinou sobre gravidez

~sobre Olmo e a Gaivota e o Renascimento do Parto~



O nome Olmo e a Gaivota é curioso. O Olmo é pode chegar a mais de trinta metros. Sua madeira é usada para móveis e na indústria naval. Uma ligação forte com a terra, enquanto a gaivota está longe da terra duplamente. Prioridades. Primeiro o ar, depois o mar, depois a terra, sem a qual, afinal, ela não sobrevive. Ele Olmo, ela gaivota. Enquanto a Olívia Corsini se autodeclara como uma sonhadora, Serge Nicolai parece perfeitamente confortável com a esposa e a vida que tem, não compreendendo a triztesa da esposa. Eles são dois atores de teatro, que acabaram de se descobrir grávidos. Dirigido pela brasileira Petra Costa em parceria com a dinamarquesa Lea Goel, é um filme doce e raivoso ao mesmo tempo. Originalmente, não era sobre a gravidez de Olívia, mas quando as diretoras descobriram que ela estava grávida, embarcaram na ideia. O resultado é um dos filmes mais marcantes que eu já vi sobre gravidez e sobre a mulher grávida. 

O Olmo e Gaivota desconstrói completamente a ideia da gravidez como algo lindo. É lindo também, mas é muitas outras coisas. É um período de solidão, de dúvida, de dor e de medo. Falta isso no cinema, no mundo. Falta isso como discurso. Esquecer as fases ruins da gravidez cria uma situação com a qual a mulher tem que lidar sozinha, duplica a solidão. E essa é uma das forças do filme: como ele mostra de forma tão sincera essa solidão de Olívia. Foi nítido como a atriz estava abalada emocionalmente, constantemente a beira das lágrimas. Enquanto se prepara para uma peça importante em sua carreira, descobre-se grávida. Uma gravidez de risco que não permite que ela faça exercícios, atue, suba escadas. Ela mora num prédio sem elevador, com muitos... muitos degraus. Então passa a maior parte da gravidez em casa, presa em seus pensamentos. O marido segue a peça, não pode parar, tem que viajar. Vai e volta. São pensamentos sobre o futuro, sobre o trabalho que deixou, sobre o marido que está num lugar que ela própria gostaria de estar. 

Eu entrei no cinema pensando nessa mistura de ficção e documentário que o filme apresentaria. Curiosa. Saí dele pensando sobre gravidez e isso continuou reverberando até agora. Como é importante que as mulheres se vejam na tela dessa forma tão aberta, tão sincera. 



Outro filme que foi uma aula é O Renascimento do Parto,de 2013. Dirigido por Eduardo Chauvet, a obra denuncia o número excessivo de cesarianas no Brasil e faz um chamado para a discussão sobre o parto humanizado. O filme foi o documentário com a segunda maior bilheteria de 2013.A questão do filme é o empoderamento da mulher. Seu poder de escolha. Ela deve decidir onde se sente mais segura e amparada, como o parto será feito e por quem. 

Um dos principais problemas brasileiros relativos à saúde da mulher é a grande quantidade de cesáreas. A Organização Mundial de Saúde recomenda que essas cirurgias sejam usadas em situações especiais e o índice da cirurgia não deve ultrapassar os 15%. Em todo o Brasil, o índice é de quase 40%, enquanto nos hospitais particulares chegam a quase 90%. Muitos motivos resultam nessa prática: medo da mulher, o custo e a rapidez de uma cesárea e especialmente falta de informação.

O filme é extremamente informativo. Pode ajudar mulheres (e homens!) que querem saber mais sobre parto humanizado, sobre a real necessidade de cesárea, sobre métodos internacionais e faz um panorama exemplar de como o assunto vem sendo tratado no Brasil. Veja agora e beijos. 


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