O
filme Na Quebrada, dirigido por Fernando Grostein Júnior, conta a história
de três jovens de Nova Brasilândia, uma favela de São Paulo, que acabam
conhecendo o cinema por conta do trabalho de uma Ong, o Instituto Criar.As
histórias e o filme em si não fogem muito do que vem sido mostrado em filmes de
favela, quase um novo gênero. Na verdade o filme veio para a comemoração de dez anos da Ong,
sendo assim, cumpriu bem seu objetivo. Vamos a história e aos pontos
fortes.
O filme segue a trajetória dos quatro adolescentes: Júnior
(Jean Luis Amorin), Joana (Daiana Andrade), Zeca (Felipe Simas, que segundo minha amiga faz
Malhação, mas só fez eu recordar o Kayky Brito) e Gerson (Jorge
Dias, filho do Mano Brown). Júnior é o personagem engraçado e atrapalhado, que vive
levando choques e quebrando as coisas (me lembrou eu mesma). Parece caricato,
mas os depoimentos reais no final do filme mostram que essas pessoas existem
mais na realidade do que na ficção. Joana é uma menina que esta grávida e tem
pais cegos, vivendo o drama do seu irmão também estar ficando. Zeca tem que
lidar com os pais no mínimo chatos porque quer se tornar um cineasta. Gerson tem
a história mais complicada, com uma mãe solteira e o pai no presídio. A mãe
leva drogas para o pai, até que ele morre e Gerson precisa entrar no mundo do
crime para pagar dívidas.
Zeca, por sinal, tem sua
história baseada na trajetória do co-diretor do Filme, Paulo Eduardo, que foi
marcado pela violência quando leva um tiro na adolescência. Ele se entusiasma
com o cinema e cria uma sala dentro da comunidade, o Cine
Rincão. Tudo isso está no filme. O Cine Rincão foi tema de um curta metragem
que chegou ao Festival de Veneza, também dirigido por Grostein Júnior. Ele fez
parte de um projeto da revista italiana Colors, que buscava curtas de pessoas
que tinham sido baleadas em zonas de conflito pelo mundo. Entre 15 mil inscritos em todo o mundo, Cine Rincão ficou entre
os 10 finalistas exibidos no Festival de Veneza de 2012. Ah, dado
interessante: O Cine Rincão, o curta, tem a trilha sonora de Caetano Veloso e também de Lucas Lima (da Família Lima, sabe? Que casou com a Sandy. Do Sandy e Júnior, lembra?). Lima também participou da trilha
sonora do Na Quebrada.
O que todos eles tem em
comum é que moram em Brasilândia e acabam num curso de Cinema, do Instituto
Criar. Até aí um filme é, vai, nota C. Porém, o que chamou a minha atenção foi a ÓTIMA
atuação daqueles que fazem papel de presos no filme, especialmente o pai de
Gerson, interpretado por Anderson Lima. A
situação foi explicada no final, quando é mostrado que os presos que
participaram do filme são presos ou ex-presos reais. Eles são parte de um grupo
de teatro Do Lado de Cá, que realiza atividades artísticas dentro da Penitenciária
Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, SP. Isso é simplesmente genial. Incluir os
presidiários num grupo desses já seria interessante o suficiente, mas contar
com a ajuda deles num filme como esse é ainda mais importante, tanto para sua
valorização como para reintegração.
O
filme é dirigido por Fernando Grostein Andrade que já fez trabalhos
muito bons. Ele dirigiu Quebrando o Tabu (se você ainda não viu esse filme,
para tudo e vai aqui, ó.),
que fala sobre a política de combate às drogas no Brasil e em vários países do
mundo. Ele também é diretor de Coração Vagabundo, que tenho certeza que é muito
bom, mesmo não tendo visto, haha. O documentário sobre o Caetano Veloso (vou
dar um S2 aqui) está no topo da minha lista para coisas urgentes a serem
assistidas. Ele traz o cotidiano da turnê do disco A Foreign Sound, o único disco
de Veloso gravado em inglês.
O engraçado é que Fernando Grostein Andrade, filho de Mário
Andrade, é meio-irmão de Luciano Huck, fundador da Ong. O histericamente
engraçado, para mim, é que Luciano Huck apoiou com afinco a candidatura de
Aécio Neves na corrida presidencial deste lindo ano de 2014. Justamente Aécio,
que é a favor da redução da maioridade penal, o que levaria mais crianças
e adolescentes das periferias para o sistema prisional tão bem retratado no
filme: violento, superlotado, que dá poucas chances de recuperação.
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