quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Grand Central: quase um bom filme



“Grand Central” tem bons atores, bons planos e até uma boa temática, mas não se traduz em um bom filme. Conta a trajetória de Gary (Tahar Rahin), considerado um dos expoentes entre os novos atores franceses. Tahar cumpre bem seu papel na pele de um rapaz sem estudo, qualificação profissional ou perspectivas, que parece retratar parte da juventude europeia depois da recente crise.
Sem muitas opções, Gary vai parar em uma usina nuclear, num trabalho considerado perigoso e delicado. O objetivo da co-roteirista e diretora Rebecca Zlotowski parece ser retratar a classe operária do interior da França de uma forma verdadeira.  Chega a ser assustador. Ao comparar o filme com o Brasil, a classe operária brasileira e a juventude sem rumo que também está presente aqui, vemos a disparidade entre a Europa e o “terceiro mundo”, mesmo depois de uma crise. Mesmo na ficção.
A classe operária francesa, aqueles jovens com pouquíssimas oportunidades, ainda consegue um emprego digno numa empresa que se preocupa exaustivamente com a segurança dos funcionários. A educação, a ausência de violência, as cenas claras e limpas, os romances singelos, tudo parece contrariar o que seria típico em um filme brasileiro que tem como pano de fundo jovens em uma situação marginalizada.
Tirando essa discrepância, que pode fazer os brasileiros estranharem a combinação entre temática e estética, a única coisa que faz com que ele não seja uma comédia romântica muito clichê é justamente a usina nuclear, que ao mesmo tempo não parece ser real e, talvez por isso, o que acontece lá dentro não causa nenhum tipo de apreensão, mesmo quando a situação é de perigo.
A maioria das pessoas nunca viu uma usina nuclear por dentro, e isso pode instigar o interesse. Os procedimentos de segurança, o medo constante entre os trabalhadores da exposição à radiação excessiva, o acampamento que os torna quase uma família, o excesso de branco, de luvas, de máscaras. Tirando essas curiosidades, durante boa parte do filme a pergunta que fica é: o que Rebecca queria dizer com tudo isso?
Apesar de não convencer, o filme impressiona pela qualidade e a beleza dos atores, as locações e o figurino, e especialmente a antagonista feminina. Karole (Léa Seydoux) tem uma beleza singela, seu figurino se encaixa perfeitamente entre o rústico, o sensual e o delicado. Vale lembrar que Léa fez enorme sucesso em “Azul é a Cor mais Quente”, no papel da jovem de cabelos azuis que tem um relacionamento homossexual com a protagonista.
É com Léa que Tahar Rahin fica melhor em cena, na paisagem natural ao redor da vila onde os trabalhadores da usina moram. Entre a beira de um rio e um vasto campo é que o encontro entre eles acontece, já que Karole é casada com Toni, interpretado pelo simpático Denis Ménochet. No fim das contas, Léa simplesmente rouba toda a atenção e dá um pouquinho de graça à produção.



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Publicado originalmente no Opinião e Notícia

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