quarta-feira, 2 de abril de 2014

Cinema Marginal: Os Monstros de Babaloo



Os Monstros de Babaloo (1971), dirigido por Elyseu Visconti é um filme marginal, sem dúvidas. Porém, para quem já viu algumas obras do Cinema Novo e do Cinema Marginal, fica a impressão de que ele é mais linear e menos fragmentado. O que não tira em nada a inovação e o experimentalismo do movimento. 

Enquanto muitos filmes marginais impediriam que uma resenha como essa começasse com a frase  “o filme conta a história de...”, esse é razoavelmente tranquilo de identificar o tema e a história principal. O filme conta a história de.... Bem, de uma família industrial/burguesa carioca, retratando o relacionamento nada saudável entre seus membros e fazendo uma crítica severa aos valores dessa classe.

O filme tem uma característica acentuada do grotesco e de um cinema que precisa agredir o espectador para se fazer entender. As cenas onde o filho com problemas mentais  (Kleber Santos) é maltratado pela mãe, ou torturado por homens desconhecidos, são extremamente incomodas e esta segunda faz um paralelo direto com a ditadura militar que censurou completamente o filme, na época. Todo o filme tem diversas metáforas para lidar com o regime e com as mudanças sociais e políticas dos anos 1970.

Quando a família canta uma música que era símbolo de nacionalismo, ao mesmo tempo podemos ver como eles são tratados de forma grotesca e feia. A matriarca da família (Wilza Carla) é obesa e em alguma cenas come de forma fervorosa, até fazer com o que quem assiste fique enjoado. Ela trata seu filho, com problemas mentais, como um constante incômodo.

O chefe-da-família, por sua vez, mostra total inabilidade de lidar com os próprios negócios, tem uma imagem velha e um tanto débil, sendo passado para trás pela mulher e também pelas amantes, que só o querem por seu dinheiro.

O interesse e aprovação burguês do estilo de vida americano é presente o tempo todo: toca-se uma música sentimental em inglês, o irmão com problemas mentais e a irmã (Helena Ignez) usam camisetas de universidades americanas e a menina diz que precisa ir para Nova York. Além disso, em certa cena, a mãe diz que quer ir para bem longe do país, para um outro lugar. Isso demonstra muito da “geleia cultural” que veio com o Tropicalismo, passando pela antropofagia de Oswald de Andrade, onde o Brasil consegue se afirmar sua identidade nacional sem rechaçar a influência de outras culturas, mesmo as que são julgadas como opressoras: europeia e americana.

O filme é realmente mais engraçado do que muitos do cinema marginal costumam ser. Tem uma forte relação com as chanchadas, lançando piadas e performances dos atores bastante voltadas para a comédia escrachada, especialmente a empregada Zezé Macedo, que tem um papel surpreendentemente cômico. As alegorias são essenciais no cinema marginal, e nesse filme elas são bastante claras quando remetem o tempo todo a uma família burguesa quase que grotesca. 


O filme está completo no Youtube, embora a qualidade não seja tão boa. 

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